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Autoras: Priscila Stuani Durello, Patrícia Bae e Aline Roque Klein
A comunicação é uma das habilidades mais importantes que o ser humano pode desenvolver. É através dela que podemos nos relacionar uns com os outros, satisfazer nossas necessidades pessoais, aprender e compartilhar conhecimento. Segundo Harari (2017), foi prioritariamente esta habilidade que proporcionou aos homo sapiens a capacidade de se organizarem socialmente e evoluírem.
Nos dias de hoje, a comunicação segue sendo uma das habilidades mais valorizadas, sobretudo no mercado de trabalho. Ela é a base da colaboração, que fomenta o desenvolvimento e a implementação de novas ideias, bem como potencializa a resolução de problemas. Vamos entender um pouco melhor sobre a comunicação?
Quando você decidiu ingressar no mercado de trabalho, é provável que uma das suas primeiras ações tenha sido a busca por oportunidades na internet. Essas oportunidades, geralmente, são divulgadas pelas empresas através de sites, aplicativos como Linkedin, Gupy, etc. Certo? Neste caso, a empresa está informando para possíveis interessados suas oportunidades disponíveis, com as respectivas descrições.
Digamos que uma dessas oportunidades tenha interessado a você, que percebeu que tinha as qualificações descritas para o cargo. Neste caso, você certamente entrou em contato com a empresa, enviando seu currículo, preenchendo um formulário, enfim, demonstrando seu interesse, que pode ter evoluído para uma entrevista. Perceba que neste processo, houve uma troca de mensagens entre a empresa e você. É justamente essa interação entre duas ou mais pessoas, seja através de diálogos, textos, símbolos, gestos ou outros meios, que chamamos de comunicação (CORDEIRO, RAFAELA Q., F. et al., 2017).
Mas será que todas as pessoas se comunicam da mesma forma?
Existem diferentes compreensões sobre a comunicação. Uma delas entende a comunicação como um processo, que envolve a troca intencional de significados pelos interlocutores. Outra, compreende a comunicação como uma “atividade social”, que permite que pessoas de uma determinada cultura troquem significados. Ou seja, o mesmo gesto, símbolo ou mesmo uma simples expressão podem ter significados diferentes dependendo do contexto ou local onde são utilizados. Por exemplo, na Índia é super comum as pessoas saírem cuspindo pelas ruas e isso não é considerado falta de educação. Em países do Oriente Médio, Grécia, Russia e outros, um simples “joinha” pode causar um transtorno danado, pois é tido como um gesto obsceno.
Fonte: incrivel.club
Assim, podemos compreender que para que uma comunicação seja efetiva é necessário adequação ao contexto e, sobretudo, à realidade do interlocutor. Afinal, no contexto humano, falamos sobre pessoas que falam e se comportam de formas diferentes, aprendem em ritmos diferentes, possuem crenças diferentes, têm opiniões distintas sobre as mesmas coisas, possuem objetivos diferentes, ainda que no mesmo contexto.
Quando essa diversidade é aplicada à forma como os cérebros das diferentes pessoas se organizam para se comunicar, aprender e transformar informações em conhecimentos, estamos falando de neurodiversidade.
Cada um de nós é de um jeito diferente, mas em geral, a maioria das pessoas compartilha de uma mesma estrutura cerebral que determina o seu funcionamento, ou seja, a forma como percebem e interagem com o mundo. Esta estrutura é chamada de cognição, sendo formada pela percepção, atenção, memória, linguagem e funções executivas.
As funções executivas são responsáveis por funções relacionadas ao planejamento e execução de tarefas, tais como o raciocínio, a lógica, a criação de estratégias, a tomada de decisões e a resolução de problemas. Algumas pessoas têm uma condição cerebral diferente, em especial no que se refere às funções executivas.
Quando uma pessoa tem uma alteração na forma como percebe e processa as informações que vêm do ambiente ao seu entorno, trata-se de uma alteração neurocognitiva, também chamada de neurodivergência.
A neurodivergência pode se manifestar de diferentes formas. Algumas das mais comuns são:
Apesar do nome, trata-se sobretudo de um transtorno na parte que envolve a autorregulação do cérebro, fazendo com que muitas vezes a pessoa aja por impulsividade, fale sem pensar, se movimente sem perceber, perca o foco por não conseguir sustentar a concentração, etc.
Afetam a maneira como alguém aprende ou processa informações para transformá-las em conhecimento. Por exemplo, a dislexia afeta a capacidade de leitura e linguagem de uma pessoa, enquanto a disgrafia afeta a escrita e as habilidades motoras finas e a discalculia a forma como a pessoa percebe e interpreta os números.
Da mesma forma como os transtornos citados anteriormente, as altas habilidades/superdotação também fazem parte do grupo das neurodivergências, uma vez que a forma como o cérebro das pessoas enquadradas nesse critério percebe e processa as informações, também é diferente.
O transtorno do espectro autista é um termo que agrega uma infinidade de alterações e por isso é chamado de espectro. Para que uma pessoa seja enquadrada dentro do TEA, ela deve apresentar déficits significativos em três áreas específicas: as habilidades socioemocionais (a forma como se relaciona com outras pessoas), atenção compartilhada (que envolve diretamente a comunicação) e linguagem (seja linguagem verbal ou não verbal).
O TEA varia de acordo com o nível de suporte que os indivíduos precisam para a manutenção das suas vidas. O TEA nível 1 é considerado leve e não costuma causar grandes prejuízos na vida da pessoa, que necessita de pouco ou nenhum suporte. Já o nível 2 está numa escala moderada e o nível 3 em uma escala severa, demandando a presença permanente de pessoas cuidadoras junto da pessoa autista.
O estudo no campo da neurodivergência é bem recente, e o conceito de neurodiversidade foi cunhado no ano de 1998 por Judy Singer, uma socióloga australiana que está no espectro autista. Singer defende que as diferenças no funcionamento neurocognitivo não devem ser tratadas como deficiência mas sim, como alterações comuns no genoma humano. Na sua compreensão, todas as pessoas são diferentes de alguma forma e essas diferenças, no que tange a parte neurocognitiva, são o que ela classifica como neurodiversidade.
A neurodiversidade, portanto, envolve pessoas “típicas”, que compartilham padrões de processamento cognitivo e pessoas “neurodivergentes”. A partir dessa compreensão, a neurodiversidade passou a ser compreendida como um “movimento social” pelas pessoas que, como Singer, acreditam e defendem essa ideia.
Um dos motivos que fomenta a neurodiversidade como um movimento social é a compreensão de que pessoas neurodivergentes podem possuir déficits em algumas áreas, mas habilidades extraordinárias em outras. Ou seja, não se trata de deficiência.
Por exemplo, é comum que pessoas no TEA tenham o chamado hiperfoco, que consiste numa capacidade muito acima da média para uma área do conhecimento específica. Pessoas com TDAH, por sua vez, podem ter um excelente desempenho em áreas criativas ou mesmo podem desenvolver hiperfoco em diferentes áreas ao longo da vida. Enfim, independente da característica predominante que determina a neurodivergência, cada ser humano é único, com potencial de desenvolvimento e dotado de capacidades que devem ser encorajadas, em especial no que se refere à aprendizagem.
Mas então não é verdade que os transtornos causam dificuldades?
Sim, mas não necessariamente se tratam de dificuldades globais. Muitas vezes, o que gera alguma limitação não é a neurodivergência em si, mas alguma comorbidade que acompanhe a pessoa. Por exemplo, uma pessoa pode estar no TEA e ter, ou não, um prejuízo intelectual, que a coloque num nível de suporte mais elevado. Uma pessoa com TDAH pode desenvolver transtorno de ansiedade mais facilmente que uma pessoa neurotípica, assim como uma pessoa com altas habilidades tem mais chances de desenvolver dificuldades sociais. Existem ainda os casos de dupla excepcionalidade, ou seja, pessoas que somam duas condições de neurodivergência.
Muitas pessoas, inclusive, passam a vida inteira sem um diagnóstico e portanto sem contar com terapias que apoiam o seu desenvolvimento nas áreas deficitárias. Apenas percebem que são diferentes e muitas vezes, são discriminadas por suas “manias”, que podem gerar prejuízos sociais quando avaliadas por uma perspectiva neurotípica.
Agora que você já entendeu que todos somos diferentes e que isso afeta a forma como nos comunicamos, fica mais fácil de compreender os desafios que a falta de compreensão sobre as diferenças pode causar para a comunicação. Por exemplo, pode ser que uma pessoa no TEA não se sinta confortável em olhar nos olhos de seu interlocutor e isso não significa que ela não é confiável. Pode ser que uma pessoa com TDAH interrompa a fala de seu interlocutor com frequência, sem sequer perceber que fez isso. Pode ser que uma pessoa com AH/SD resolva rapidamente um problema complexo sem pedir ajuda, sem que isso signifique que não confia em seus pares ou que se ache melhor que as outras pessoas. Apenas, são formas automáticas de agir.
Assim, para que um ambiente de trabalho seja inclusivo, é fundamental que sejamos capazes de nos despir de antigos rótulos, que nos levaram a crer que os comportamentos precisam ser padronizados. Essas crenças só geram frustração em quem é diferente e muitas vezes levam a atitudes discriminatórias, sem que sejamos capazes de perceber nossos erros.
A comunicação não é sobre apertar as mãos de uma maneira específica ou sorrir no momento "certo". Em vez disso, a comunicação é uma ferramenta e um conjunto de habilidades que nos permite entender melhor, ter empatia e nos conectar com os outros, especialmente com quem pensa diferente de nós. Ao trazer rigidez na maneira como esperamos que pessoas neurodivergentes se comuniquem com os neurotípicos, fazemos mais mal do que bem.
Quem defende a neurodiversidade entende que a sociedade é enriquecida pela diversidade, pela maximização da perspectiva do “capital humano”, e isso inclui a comunicação e os comportamentos sociais. A comunicação é uma via de mão dupla, e não é apenas responsabilidade das pessoas neurodivergentes se conformar aos padrões sociais neurotípicos e forçar uma adaptação que pode acarretar prejuízos emocionais.
Em vez de esperar que estudantes ou profissionais neurodivergentes se comuniquem por "regras" neurotípicas, precisamos reformular nosso pensamento e nos perguntar: Como podemos entender melhor essas diferenças para estabelecermos uma comunicação mais eficaz com neurodivergentes que estão na minha sala de aula e ambiente profissional?
Fonte: br.freepik.com
Os benefícios de contratar uma força de trabalho neurodivergente são claros. No entanto, muitos desses indivíduos são muitas vezes involuntariamente prejudicados pelos métodos tradicionais de recrutamento, nos quais os processos favorecem candidaturas com base em pensamentos pré-concebidos e já refutados pela ciência como sendo boas práticas, uma vez que desconsideram as diferenças de cada indivíduo.
Portanto, é necessário que as empresas aprendam a melhor forma de recrutar, gerenciar e apoiar equipes neurodivergentes para garantir a igualdade de oportunidades para todos(as) os(as) profissionais.
Vejamos agora algumas considerações que sua empresa pode implementar para incluir profissionais neurodivergentes em seus processos de recrutamento:
Muitas vezes, por medo do preconceito, pessoas com quadros diversos acabam não desenvolvendo plenamente suas habilidades e se afastam das organizações empresariais.
De acordo com os pesquisadores britânicos Robert Anthony Allen e Tamsin Priscott, em "Employee Relations: The International Journal", "uma organização não pode identificar as pessoas que trariam o maior benefício para a força de trabalho se as pessoas neurodivergentes dentro dessa força de trabalho estiverem relutantes em se revelar por causa de o estigma dos estereótipos". Por isso, o mercado precisa criar esse ambiente receptivo ao profissional.
Quando uma empresa decide realizar um processo seletivo inclusivo, não pode simplesmente colocar pessoas com condições diferentes em um ambiente que por si só é exclusivo e predominantemente neurotípico. Por exemplo, uma pessoa com dificuldade nas habilidades sociais terá seu desempenho comprometido se for inserido em uma dinâmica de grupo, ao passo que suas atividades poderiam perfeitamente ser realizadas de forma individual.
Por isso, é importante que a empresa se preocupe tanto com a contratação desses talentos quanto com o bem-estar dos(as) profissionais.
Há muitas maneiras de adaptar suas técnicas de recrutamento e seleção para incluir pessoas neurodivergentes em sua equipe. Por exemplo, em vez de usar um painel de entrevistadores(as), você pode conduzir uma série de entrevistas sequenciais com um(a) entrevistador(a) de cada vez.
Como Doyle disse: “Permitir a diferença significa mostrar respeito e entender que diferentes maneiras de fazer as coisas não são menores”.
Para perceber os benefícios e oportunidades de abraçar a neurodiversidade, a conscientização é fundamental e esperamos que esse conteúdo abra novos espaços para discussão e promoção de boas iniciativas na sua organização, partindo do princípio que cada pessoa, apesar de sua neurodivergência, é única, considero importante ouvi-las sobre o que pode beneficiá-las no ambiente organizacional para melhorar sua produtividade e suas condições de trabalho
De nada adianta a área de pessoas se esforçar para atrair talentos neurodivergentes se, ao chegar na empresa, as pessoas que já estão lá não forem capazes de acolher e conviver com os novos colegas. Trabalhar a cultura organizacional e o respeito à diversidade pelo restante da equipe são pontos fundamentais.
Além disso, entender a especificidade de cada colaborador(a) independente da condição neurocognitiva também é essencial para uma boa convivência e produtividade na empresa.
Por exemplo, uma pessoa com dificuldade de concentração se beneficia de espaços mais silenciosos e fones de ouvido mais confortáveis. Então, que tal conversar com o restante da sua equipe para que reconheçam e respeitem o espaço desses(as) colegas? As empresas são essenciais para garantir a evolução social, e as questões de inclusão e diversidade estão aí para provar isso. Devemos refletir sobre a neurodiversidade para efetivá-la no ambiente empresarial.
E você, o que pode fazer para que sua empresa se torne um ambiente mais inclusivo e aberto à neurodiversidade?
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