O Dev em T e a necessidade de descompressão
Paulo Caroli é especialista em práticas ágeis e lean, e recentemente publicou um texto falando sobre sua experiência com mergulho quando adolescente e fez uma reflexão sobre o processo de facilitação de times.
Ele compara os encontros com o time com mergulhos profundos e afirma que, quanto mais tenso e longo for o encontro ou mergulho, maior é a necessidade de realizar uma atividade leve e descontraída, para que assim o time se recupere emocional e fisicamente. Essa atividade leve é a descompressão, usada pelos mergulhadores e sua duração é calculada conforme o tamanho da profundidade e a permanência nela.
Ao final da leitura não pude deixar de associá-lo ao tema do Dev em T, que tanto temos explorado aqui na Alura.
O Dev em T é um profissional generalista-especialista capaz de navegar lateralmente por várias áreas e, ao mesmo tempo mergulhar fundo em uma tecnologia ou área de conhecimento. É um processo lento, parecido com uma maratona, que costuma levar anos e anos para se consolidar (e nunca pense que ele estará concluído um dia!). E é aqui que lembro da história do José, ex-aluno de uma turma na Caelum onde fui o professor.
Conheça a história do José
José estava começando na área. Queria um emprego de programador backend. Se inscreveu na turma para adquirir e praticar os conhecimentos necessários para conseguir logo a tão sonhada vaga. Realizava os exercícios do curso, tirava as dúvidas, procurava desafios para avaliar seu aprendizado. Durante os intervalos a gente conversava sobre carreira e ele constantemente perguntava:
— Quanto tempo você acha que consigo me especializar, professor?
E essa é uma pergunta muito, muito comum. Tanto que ela foi incluída na seção de Perguntas Frequentes aqui na nossa página do Dev em T. E na mesma seção, na resposta da pergunta seguinte, a gente dá algumas sugestões para acelerar esse caminho.
Todavia, este ainda é uma maratona...
É preciso descomprimir!
Assim como na atividade de mergulho citada pelo Caroli, antes de voltar para a superfície é necessário passar por um período de descompressão para evitar o risco de embolia. Quanto maior for o tempo de permanência em determinada profundidade, maior também será esse tempo de descompressão.
Também na evolução da jornada Dev em T o estudante deve buscar um tempo de relaxamento e repouso mental. E mesmo esse período de relaxamento é beneficial ao aprendizado e fixação dos conhecimentos estudados no mergulho de especialista. Barbara Oakley fala sobre esses dois diferentes períodos em seu famoso MOOC Aprendendo a Aprender, os modos Focado e Difuso, embora ela esteja se referindo aos 2 modos para abordar uma sessão de estudo e não um mergulho de carreira.
Entre sessões de estudo diárias o sono é atividade natural para esta descompressão. O sono permite a seu corpo recuperar energias e restabelecer conexões cerebrais. Atividades descontraídas, como aquelas ligadas a esportes e lazer, igualmente garantem descanso tão importante ao estudante.
Já pensando no mergulho especialista do Dev em T, a navegação para outras áreas do conhecimento também cumpre papel de alívio mental. Debruçar-se sobre assuntos com abordagem generalista permitirá ao estudante desligar-se conscientemente daquele problema ou desafio que está enfrentando em sua especialidade.
Uma rotina excessiva de atividades de estudo para acelerar o conhecimento especialista pode ocasionar problemas na saúde do estudante. Para evitar riscos de doenças mentais como depressão e ansiedade ele deve intercalar em sua rotina de estudo atividades de descompressão. Assim terá mais oportunidade de apreciar seu mergulho refletindo sobre seu progresso e conquistas durante a jornada.