Segredos para uma boa iluminação de cena
Não importa se você está criando uma cena para uma fotografia, um vídeo, um desenho ou uma pintura, você sempre vai querer que seu público te entenda. Afinal, de que serve uma imagem que ninguém entende, não é mesmo?
Uma boa iluminação de cena ajuda a transmitir com clareza uma ideia ou sensação, e dominar algumas técnicas pode te ajudar na hora de decidir como estará a luz no ambiente que você quer retratar.
Pensando nisso, separei três técnicas que podem fazer toda a diferença nessa hora. Vamos conversar sobre:
- Ponto focal e direcionamento do foco de luz.
- Uso de foco de luz para criar a sensação de volume e tridimensionalidade.
- Como usar ao seu favor a imprevisibilidade da luz natural.
Direcione sua luz para pedir atenção
Uma boa história é feita tanto do que você mostra quanto do que você esconde. Afinal, qual é a graça de assistir um filme de suspense sabendo desde o começo quem é o assassino? Na hora de criar sua cena, lembre-se que nem todos os elementos precisam estar à vista, e muito menos em destaque. Esconder elementos nas sombras é sempre muito efetivo!
Da mesma maneira, é importante dar muito destaque para o que for mais importante e central. E não estou exagerando: a pessoa tem que bater o olho na sua cena e conseguir entender imediatamente o que é mais importante.
Autoria: Pascal Campion
A luz é uma maneira muito fácil de dar esse destaque, o olhar é atraído naturalmente para os lugares mais iluminados ou de maior contraste. Colocando um holofote no seu lugar principal, toda a atenção fica ali e você ainda tem a vantagem de poder colocar outros elementos fora desse foco central, que mal serão notados.
Aliás, veja esse vídeo e conte quantas vezes a equipe de branco passou a bola. Você vai se surpreender com o resultado.
Contou? E percebeu o urso dançando?
Enquanto estamos prestando atenção no foco da cena, que é a bola de basquete, estamos também ignorando completamente a pessoa fantasiada dançando bem em frente aos nossos olhos! Esse é o imenso poder de um bom ponto focal.
Use luzes direcionadas para maior realismo
Como dito anteriormente, somos tão guiados pela força da luz que ela acaba até escondendo coisas completamente óbvias, como uma pessoa fantasiada dançando ou até mesmo um dinossauro que não existe de verdade. Foi a técnica que o filme Parque dos Dinossauros usou na década de 1990 para esconder a computação gráfica simples e sem o poder que temos hoje.
Autoria: cena do filme Jurassic Park
Esse dinossauro não é um robô, ele só existe no computador e tem pouquíssimos detalhes perto do que vemos no cinema atualmente. Então como é que ele parece mais realista do que muito CG de filme recente, que batemos o olho e identificamos imediatamente que são falsos?
Simples! Uma boa iluminação.
Repare como existe apenas uma fonte de luz na cena, vinda de um poste de luz acima do dinossauro. Isso ajuda em dois sentidos diferentes: primeiro, muitos detalhes estão escondidos nas sombras, fazendo com que seja mais difícil perceber inconsistências e texturas esquisitas.
Depois, essa luz que bate em um só lado do dinossauro faz com que ele tenha uma sensação de volume muito maior do que se a luz fosse mais natural e viesse de várias direções ao mesmo tempo, sem um foco claro.
Ainda existe um pequeno detalhe que ajuda a construir a cena: a chuva gera uma espécie de cortina que faz muitos detalhes sumirem.
Por outro lado, temos cenas de filmes mais recentes, como esse exemplo do Star Wars:
Autoria: cena da série Star Wars
Essa é claramente uma cena falsa, uma pintura ou modelo digital, e é muito provável que você ache ela estranha mesmo sem identificar o motivo.
O ponto é: de onde vem a luz na imagem?
A única que conseguimos ver na imagem acima, é aquela lá de trás, no canto esquerdo superior da imagem. Por outro lado, a sombra projetada dos pilares e personagens indica que essa luz vem da direita da imagem. Ao mesmo tempo, a luz que bate atrás das pessoas está vindo da esquerda e de trás. Ou seja, temos informações conflitantes, e nossos olhos são muito bons em captar esse tipo de inconsistência.
Mantenha sua iluminação simples e direcionada. Quanto mais simples, menor sua chance de errar.
Luzes naturais são confortáveis
Luzes construídas são legais, interessantes e podem fazer milagres na iluminação, mas é importante lembrarmos que a maior parte da luz disponível neste planeta tem uma fonte natural e incontrolável, que é o sol.
A luz do sol é confortável, charmosa, calorosa e energética. Como ela é a luz natural do planeta, nós evoluímos para pensar nela e vivemos grande parte da vida ao redor do ciclo dessa luz. Em geral, fazemos nossas atividades de dia para aproveitar a presença do sol e descansamos à noite.
Autoria: Johannes Helgeson
É uma luz que vem de cima de nós e pode estar à esquerda, direita, à frente ou atrás. Dependendo do horário, está alta no céu (perto do meio-dia, com sombras pequenas no chão) ou perto do horizonte (no nascer e pôr do sol, com sombras bem alongadas), e normalmente resulta em cenas amareladas ou alaranjadas.
Mas já sabemos de tudo isso, né? Infelizmente, o sol também tem um lado ruim para compor imagens: a variabilidade.
O sol é um pouco imprevisível. Não temos como saber exatamente que luz teremos amanhã. Pois isso depende da quantidade de nuvens que haverá no céu, da poluição na atmosfera, de neblina, até mesmo da atividade solar naquele momento.
Isso sem contar que a luz natural tem um direcionamento geral, e não um foco. Ela vem um pouquinho de todos os lados, porque ela rebate em tudo o que estiver no ambiente.
E como lidar com isso? Simples: não lidamos!
Quando temos tantos fatores assim que variam, temos que absorver os erros e problemas. Ser imperfeita e irregular é grande parte do charme da luz natural nas artes. A imperfeição em geral é uma coisa boa para nós artistas. Ela gera naturalidade e nos coloca em uma situação de vulnerabilidade que gera empatia, e se tem uma coisa que queremos do nosso público é empatia.
Autoria: Pascal Campion
Sem contar que você pode pensar em maneiras criativas de usar o cenário para canalizar a luz do dia e criar pontos focais, como por exemplo fazer essa luz passar entre pedras e gerar áreas com mais ou menos luz.
Portanto, aprenda a abraçar seus problemas! Ao menos quando se trata de iluminação natural.
Conclusão
Essas são apenas algumas pequenas dicas para iluminar suas ideias na hora de criar imagens, mas nem de longe é um guia definitivo de como usar a luz. Como regra geral, nunca se esqueça que nas artes a luz é um elemento narrativo, ela deve servir sempre para te ajudar a contar uma história e dar foco para o que é importante. Seguindo essa regra básica, todo o resto é secundário. Uma boa imagem é aquela que conta uma boa história!
Quer saber mais sobre o assunto?
Aqui estão algumas boas fontes de informação:
- “Color and Light”, livro de James Gurney
- O canal “light ponderings”, de um artista da Pixar
- Meu curso “Fundamentos de desenho: Luz e sombra”
- O curso de composição na fotografia da Flávia Palazzo