Carreiras líquidas
Lembra quando você era criança e alguém perguntava "o que você vai ser quando crescer"? Provavelmente, sua resposta variou bastante com o passar dos anos.
Mas em algum momento da vida você acreditou que escolheria uma profissão e passaria a vida inteira nela. Antigamente era assim mesmo.
Com o passar do tempo, fomos descobrindo que a vida não precisa ser assim, tão rígida. Podemos e devemos ter diferentes experiências. Podemos descobrir temas novos que nos interessam e, por que não, mudar completamente de área.
Quer um exemplo? No livro Range, que a gente gosta tanto, um dos grandes exemplos é o tenista Roger Federer.
Falando bem resumidamente: ele praticou natação, luta livre, futebol, vôlei, badminton, skate... e só aos 12 anos decidiu focar em tênis. Uma história muito diferente das crianças que começam aos 5 anos ou até mais cedo.
Essa mudança de mentalidade diante das possibilidades da vida vem sendo analisada há vários anos por diversos estudiosos.
Uma das vozes mais relevantes sobre essa flexibilidade é Zigmund Bauman, o famoso sociólogo polonês, autor de uma vasta obra que aborda principalmente a transformação da pós-modernidade na vida até então estabelecida. Uma palavra-chave para entender o mundo pelo viés de Bauman é liquidez.
Talvez você já tenha ouvido falar em modernidade líquida, amor líquido, tempos líquidos. Mas o que isso quer dizer? Aqui tem um vídeo para você se aprofundar
Líquido é uma metáfora para as atuais relações sociais e econômicas, num contraponto ao passado sólido. Se antes tínhamos uma sociedade organizada nos pilares de instituições, regras, ordens preestabelecidas como um passo a passo para nos encaixarmos naquela estrutura sólida - a qual não devíamos perturbar -, hoje já identificamos novas necessidades e possibilidades.
Sabemos que essas necessidades continuam em constante mudança, sendo impossível determinar uma fórmula fixa que garanta que as coisas vão funcionar como planejado. Ou que, seguindo uma receita, fazer faculdade, mestrado, casar, trabalhar X horas por semana vão te trazer aquela promoção, o sucesso ou a felicidade.
Diferente do passado, onde nossas carreiras estavam em “contêineres” seguros, na modernidade líquida elas também são capazes de assumir outras formas. Assim como líquidos, as carreiras agora podem mudar rapidamente, se adaptar.
Líquidos têm a propriedade de mudar de forma muito rapidamente. De se adaptar aos variados contêineres, de mudar de estado conforme mudança de pressão.
Sabe aquela tarefa que não é bem o que seu emprego costuma fazer, mas você fez mesmo assim? Ou aquele curso que você fez por lazer, mas depois descobriu que acabou ajudando em outra atividade?
Na modernidade líquida, não é possível se solidificar. É preciso transgredir, subverter, substituir. Ser maleável, ter fluidez, saber se adaptar. Sejam as interações humanas, econômicas, ambientais, relações de produção e consumo, nada é estável.
Quando se fala de tecnologia, então, inovação já é condição sine qua non.
Essa instabilidade inevitável tem muito a ver com o que David Epstein chama de wicked environment (ambiente hostil), pegando emprestado do psicólogo Robin Hogarth. Segundo eles, um ambiente kind, gentil, tem regras bem-definidas, com instruções ordenadas e feedback constante. Tudo organizado para você aprender rapidamente as regras do jogo, que não mudam, entendê-las e aplicá-las.
Já em um ambiente wicked, as regras estão em constantes mudanças, se é que é possível detectá-las. Talvez você precise aprender algo que pareça fora do caminho, fazer retornos e contornos, muitas vezes sem resposta imediata. Testar, explorar possíveis soluções sem a certeza do resultado. É a forma de criar uma carreira em T.
Então te pergunto: Qual ambiente é mais parecido com o mundo de desenvolvimento de software?
Ou seja, é preciso se adaptar ao caminho do rio. Pegou a necessidade de fluidez? E é claro: tudo vai continuar mudando. Então a capacidade dinâmica de transformação tem sido cada vez mais valorizada. Logo, todas as skills podem ser agregadoras.
Ampliar nosso repertório, reagir rapidamente a mudanças, ter mentalidade colaborativa. Essas são características chaves para quem trabalha com tecnologia.
E você? Que habilidades vão além da caixinha quadrada da sua carreira? Quais skills se tornaram ferramentas pra você navegar e mergulhar na liquidez do mundo atual?