Transdisciplinaridade, Squads e Startups
Hoje, as fronteiras que separavam as áreas do conhecimento já não fazem sentido. Tanto a velha separação entre Humanas, Exatas e Biológicas, até ter especializações cada vez mais específicas, mas que já perderam de vista a base em comum.
Praticamente todas as profissões reconhecem a importância de uma visão pelo menos periférica para outras áreas (e a necessidade do lateral thinking). Afinal, tudo está conectado e há muita interferência entre os campos.
Parece engraçado, mas esse é justo o exemplo que Leandro Karnal dá, em um video sobre escolha de carreiras para jovens. Precisamos de profissionais da medicina mais focados ou que conheçam melhor as pessoas como um todo?
Polinização cruzada
Ao falar do futuro da internet e da educação, David Perell, no Twitter usou da metáfora da polinização cruzada. A tecnologia é multidisciplinar por natureza. As disciplinas se polinizam umas às outras, se misturam, se conectam, se alteram. Conversam entre si. E com isso abrem possibilidades incríveis.
Já reparou que as coisas mais interessantes surgem justamente dessa intersecção de saberes?
Na tecnologia a divisão de áreas é mais sutil e com muito mais interseções. As paredes estão caindo e não existe mais limites sólidos para delimitar cada profissão.
Essa transdisciplinaridade não só é uma tendência no mercado de trabalho, como na ciência em geral. O conhecimento (saber) produtivo cada vez mais é fruto de contato com outros conhecimentos (saberes). É nessa zona fronteiriça onde ocorre a inovação. Nas bordas! Fruto de pessoas onívoras, polímatas, curiosas. Fruto de profissionais em T.
Quanta inovação surge da integração entre tecnologia e medicina, engenharia, design, música? Mais importante do que entrar em um silo focado é estar abertos para a mudança (que é a única certeza que temos hoje). Mais do que ser mega expert é aprender a se comunicar com outras áreas.
Keith Sawyer, psicólogo e professor sobre criatividade, colaboração e aprendizagem, afirma que são justamente essas intersecções entre disciplinas as zonas onde cada vez mais ocorre a inovação. Isso porque lá ocorre muita troca de conhecimento e experiência. Muita comunicação e inclusão. É no livro The Cambridge handbook of the learning sciences.
Ao ter contato com modelos, metodologias e práticas adotados por colegas de outras áreas, ganhamos uma visão maior de como tudo se conecta. Assim, temos mais ferramentas para descobrir novas rotas possíveis, em vez de seguir aquele único caminho já mapeado.
Então a colaboração vem como fator essencial aqui. Por mais amplo que seja nosso repertório pessoal, é quando incluímos a perspectiva do outro que temos maior potencial. Um time transdisciplinar tem mais recursos para enfrentar a imprevisibilidade e a complexidade do ambiente para gerar valor a partir da atuação de cada um.
Não se trata apenas de trabalhar em equipe. Mas sim de agirmos juntos de fato, cruzando nossos saberes de tal forma que o resultado é muito maior do que a soma das partes.
Um time com polinização cruzada possui uma variedade de especializações, comportamentos e personalidades. É a interação de seus membros que promove o surgimento de novas ideias. E também a empatia, a consideração e percepção de outros fatores. Aumentamos nosso campo de visão e com isso, nosso potencial criativo.
Não à toa a construção de squads com seus times transdisciplinares ganhou tanta força no ambiente empresarial.
Gostemos ou não, os squads vieram pra ficar, independente do que você entender por 'Spotify model'. A quebra dos departamentos é um fato.
Profissionais de diferentes áreas estão cada vez mais próximos, para ganhar velocidade, diminuir lead time e 'gerar valor'. Gera também um atrito mais constante: quem programa está o tempo inteiro ao lado de quem faz o design, de quem define as prioridades e de quem faz o marketing e o suporte. Nas startups, que nasceram pequenas, elas já estão mais acostumadas a trabalharem com essa proximidade. Não há necessidade de quebrar compartimentos e limites.
O profissional em T, que já tinha popularidade entre os cargos mais gerenciais e de liderança, se destaca por aqui. Além da sua especialização em uma linguagem, em um framework, é preciso entender o contexto inteiro da pequena startup, ou da grande corporação.
Transdisciplinaridade é mais que multidisciplinaridade. E também começa com T.